História de uma completiva: origem e desenvolvimento do complemento oracional introduzido por se do português

O propósito deste trabalho é investigar o percurso histórico da ora o completiva iniciada pela conjun o “se” do português, que também introduz, nessa e em outras línguas romanicas, uma ora o adverbial condicional. Com base em registros de filólogos e romanistas, demonstra-se que a similaridade existente entre essas ora es é resultado de gramaticaliza o da ora o condicional que, no latim, passou a funcionar como ora o completiva, em raz o da extin o das partículas interrogativas que passaram a ser substituídas pela conjun o condicional latina si. Como ora o completiva, a ora o com “se” submete-se à gramaticaliza o, integrando-se à ora o matriz de um modo que, conforme proposta de Hopper e Traugott (1993) e de Lehmann (1988), é próprio a constru es completivas. A forma que tem essa ora o de se gramaticalizar, incorporando-se à ora o matriz, é, entretanto, diferente do que é previsto ocorrer a uma completiva introduzida por “que”, uma diferen a que se deve, sobretudo, ao significado hipotético que a completiva com “se” preserva de sua fonte histórica. Demonstra-se, por fim, que, do português arcaico ao português contemporaneo, a gramaticaliza o do complemento oracional introduzido por “se” n o se configura em mudan a diacr nica, já que essa gramaticaliza o é atestada desde períodos mais remotos, em textos do século XIV.