Uma quest？o de gênero? A diferen？a sexual como valor no discurso histórico acerca da histeria

Contemporaneamente, vários autores têm se debru？ado sobre o tema da “objetividade” da ciência e dos valores científicos. A quest？o mais básica é a da existência de valores em curso na prática, métodos e produtos da ciência. Este artigo pretende apresentar o discurso histórico acerca da histeria como uma teoria nosológica pautada por valores, sendo estes tanto sociais quanto cognitivos, cuja interrela？？o íntima interroga a tese acerca da objetividade dos valores epistêmicos. A histeria afigura, assim, como um exemplo de teoria médico-científica na qual valores sociais (nomeadamente: valores políticos e religiosos que institucionalizaram uma diferen？a de gênero) influenciaram decisivamente oras a recusa da existência da entidade mórbida, oras sua descri？？o e tratamento. Tamanha foi a for？a dos valores sociais nas teorias etio-patológicas da histeria que, até mesmo na teoria psicanalítica, se ela já n？o é mais descrita como uma “doen？a das mulheres”, ainda o continua sendo como “sofrimento do feminino”